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Quanto [me] custa ser Enfermeira

Custa muito. Custa tanto que às vezes acho que não vale a pena. E uso a palavra 'custar' de propósito porque, bem vistas as coisas, há sempre uma associação ao nosso salário: são pagos para isso, não fazem mais do que a vossa obrigação. E ouvir isto assim, dito da boca para fora, magoa. Magoa muito. 

Magoa porque quem o diz, não faz ideia de quanto custa, por exemplo, amparar a queda de quem descobre que vai morrer. A quem é dito que já não há cura. Amparar o desencanto de sonhos interrompidos aos 20, aos 30, aos 40 anos. Não importa a idade. São sempre sonhos de alguém. Não faz ideia de que é inevitável projectarmos a nossa vida nestas vidas e que vivemos sempre assustados com o que nas nossas vidas pode surgir.

Magoa porque não fazem ideia de quanto custa segurar na mão de quem parte e depois segurar na mão de quem fica. Aliás, a maioria das pessoas nunca teve que ver um cadáver de perto, quanto mais acompanhar essa passagem tão avassaladora, que culmina num último sopro de vida. Tratar de um corpo sem vida toca qualquer um. Tem que tocar. E às vezes toca mais do que devia e as histórias invadem nos os sonhos dias a fio.

Magoa porque não fazem ideia do que custa ser responsável pela vida de alguém. Pela vida do pai de alguém, da mãe de alguém, do filho de alguém. Não sabem o que nos percorre por dentro cada vez que uma situação se agrava, cada vez que a perda se torna iminente. Não sabem até onde somos capazes de ir para salvar alguém. 

Magoa porque não sabem o que é cuidar de alguém acamado. A fragilidade e o estado a que um ser humano pode chegar. Não sabem que também sentimos pena, que também achamos que existem estados que não são vida para ninguém. Mas continuamos. Tratamos e cuidamos como se aquele olhar ainda nos seguisse, como se aquela mente ainda nos entendesse, como achamos que aquela pessoa gostaria de ser tratada. Como gostaríamos que tratassem dos nossos. 

Magoa porque não sabem do creme que passamos, das mãos que seguramos, das piadas que contamos, dos sorrisos que arrancamos, dos cabelos que penteamos, das tranças que fazemos. Não sabem dos dias em que trabalhamos mais horas do que as que descansamos ou das semanas que passamos mais horas no hospital do que em casa. Não sabem dos projectos que adiamos, dos sacrifícios que fazemos.

É verdade que ao fim do mês, felizmente lá trazemos salário para casa. Mas é também verdade que o meu salário (que provocaria risos, ou espanto talvez se aqui o discriminasse) é, neste momento igual ao da maioria dos meus colegas que trabalham há por exemplo, dez anos. E qualquer enfermeiro que comece a trabalhar agora irá ganhar tanto como eu. São anos de trabalho sem qualquer reconhecimento. Não há progressão, não há perspectivas de evoluir na carreira, não há incentivo para fazermos mais. As especialidades não são reconhecidas e alguém que gaste uns milhares de euros para se especializar vê, na maioria das vezes a responsabilidade acrescida sem ter qualquer retorno do dinheiro que investiu. 

Olhando para a coisa assim em números, o panorama já não é animador. Mas pessoalmente, estas são sempre as últimas contas que me ocorrem e nem é por elas que me sinto tão desencantada com a profissão que escolhi. O que me desilude dia a dia e me cansa tão precocemente são as coisas que este tão aclamado salário não paga e que, digam o que disserem, vão muito além da minha obrigação.

São as noites fora de casa, os fins de semana em que não o levo ao parque , as velas que não ajudo a apagar. Os almoços e jantares que se mudam e adiam por minha causa, ou aqueles a que acabo inevitavelmente por faltar. Os feriados de Páscoa, de Natal ou de Ano Novo ou, em muitos casos o de Natal E o de Ano Novo. O ter que sair de casa sem luz do dia e voltar quando o dia já se pôs. Sair quando eles ainda dormem e voltar quando ele também já adormeceu. O dedicar uma vida a cuidar dos outros deixando para outros cuidarem aquilo que é meu.

Por isso, ser Enfermeira custa (me) muito. Porque nos julgam, porque falam sem saber, porque ignoram a verdadeira essência do nosso trabalho. E é cansativo remar contra tanta ignorância. É tão cansativo que chego a achar que não vale a pena.


Quando está difícil abro o cacifo'


Comentários

  1. Puseste-me a chorar outra vez pahhhhh!!!!

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    1. Há demasiada gente a sentir-se assim. Algo vai mal. E não somos nós.

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  2. Somos tantas a pensar igual... há 23 anos nesta profissão que tanto gosto e, ainda assim, cada vez mais acho que não vale mesmo a pena...

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    1. Somos mesmo muitos... nunca imaginei que este meu pequeno desabafo chegasse a tanta gente e que o feedback fosse todo ele de concordância e iguais sentimentos.

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  3. E costumo dizer que na nossa profissão nosso salário nunca vai ser nem nos vai dar motivação.
    Eu o que me me motiva e me faz abrir o tal cacifo num serviço de medicina é um sorriso do doente ou o abrigado e o gostar já vão alguns anos como enfermeira no meu caso gostar do que faço (muitas pessoas trabalham no que não gostam e ganham mal) o saber que o doente não morreu sozinho (ninguém gosta de morrer só pois também nunca nascemos só ),O saber que demos o conforto a família etc ... o sector da saúde continua a ter maus salários enfermeiros e agentes ocupacionais ganham mal

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    1. Também é por eles que todos os dias saio de casa, mas há fases mais difíceis e nem sempre isso chega. Pelo menos para mim, quando tenho em casa a quem gostaria de me dedicar por inteiro. Mas vamos indo :)

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  4. S
    Só quem passa por isso é que compreende é difícil ser mãe e enfermeira em Portugal .

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  5. Não pense assim. Estive, até hoje, internada 6 vezes. Duas cesarianas em dois partos que correram mal e 4 por causa da minha vesícula. Estive 1 no Hospital da Cuf Descobertas e as outras no Hospital de Vila Franca de Xira. Do meu lado materno, todos os primos são médicos, excepto eu, que fui para o direito. Apesar da minha ligação aos médicos, dos meus internamentos, os meus elogios nos livros de elogios ficaram sempre para os enfermeiros. Foram eles que lá estiveram quando precisei. Quando mãe insegura de primeira viagem, foi uma enfermeira que me ensinou a dar banho à minha filha. Foi uma enfermeira que ma pôs no peito e me ajudou. Foi uma enfermeira que me acalmou as dores. Foram os enfermeiros que estiveram sempre presentes. No último internamento, só vi o médico duas vezes: na urgência e no dia em que me deu alta! Muita força! Vocês ganham mal e porcamente para aquilo que fazem. Mas são quem segura um hospital, um centro de saúde com quem nós contamos.

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    1. Foi por isso que deixei de exercer e tive um filho... Até hoje ainda não me arrependi... Mas custou-me 23 anos de vida para aprender que não vale a pena... Mais vale ser agricultor, pai e feliz...

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    2. Sou enfermeira e penso em trocar

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    3. Eu sou Enfermeira há apenas 9 e penso da mesma forma. O facto de ter tido um filho exacerbou a forma como olho para as coisas e decididamente, neste momento, não me vejo com mais dez anos desta vida. O futuro o dirá.

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  6. Maria do Mundo diga para toda a gente o que escreveu , porque na hora da verdade o Enfermeiro é o menos reconheçido, mas é o que esta sempre lá e faz das tripas coraçao para salvar os outros.....É ao enfermeiro que os utentes/ pacientes se queixam e quando o medico chega estam calados, esperando que se faça a comunicaçao...enfim muito havia a dizer ......mas estamos nesta cruel profissao que amamos pelo que fazemos em prol do outro, cujo reconheçimento será na proxima reencarnaçao...

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  7. 31 anos de serviço e tão cansada e desiludida com tudo.
    o que me faz seguir todos os dias para o serviço, é saber que, ao chegar tenho doentes que me recebem com um sorriso e me dizem que "hoje não está nos seus melhores dias", apesar do esforço para que isso não transparece. E é verdade que desanima ver quem, com muito menos tempo de serviço ganhe mais, ainda estou à espera de ser reconhecida como licenciada...como tantos outros colegas...
    Enfim! Há coisas que só o coração sente e essas são as que fazem sentido

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    1. E às vezes esse esforço é tão grande não é? Uma noite mal dormida, horas a mais por semana. E lá vem aquele doente internado há mais tempo que diz 'Sara, Sara hoje não está nos seus dias'. E eu sorrio e penso 'se tu soubesses!'. Mas não sabe, nem tem que saber, já lhe basta a ele o sofrimento dele.

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  8. Como me identifico com este texto... Custa tanto deixar os nossos para cuidar dos outros e por vezes ouvir isso...

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  9. Como me identifico com este texto... Custa tanto deixar os nossos para cuidar dos outros e por vezes ouvir isso...

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  10. Como me identifico com este texto, não descreveria melhor o sentimento que invade o meu coração cada domingo ou feriado que tenho que ir cuidar dos outros e deixo quem tanto amo em casa...

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  11. Revejo-me neste texto e nos sentimentos que lhe estão subjacentes. Reafirmo o esforço e dedicação que colocamos nos cuidados, as palavras amargas e injustas de alguns doentes e familiares que deixam escapar o seu egoísmo diante de outros como eles, a falta de reconhecimento pela tarefa árdua de cuidar dos outros e deixar para trás os nossos ou fazer uma "ginástica" acrobática para que não sintam a nossa falta, os dias e as noites + feriados + FS passados fora de casa e da familia, ....mas quero acrescentar a falta de reconhecimento, elogios e incentivos de algumas chefias que gravitam nos serviços completamente desatentos aos problemas dos seus pares!!!!, quero falar de enfermeiros que fazem o que for preciso para se sobreporem aos outros e provocam o caos nas equipas mas até recebem elogios, .... claro, dirão que isto encontra-se em qq equipa....mas estes aspectos negativos e carregados de más energias reforçam o mau-estar na enfermagem!!!!! Magoa??? e muito!!!!! Bem haja pelo texto e abraço fraterno

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    1. Também é bem verdade. É outro aspecto que ainda aumenta a desilusão. Não somos uma classe unida, nem somos uma classe protegida por quem devia lutar por nós.

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  12. Paula
    Identifico-me a 100% e já ando nesta profissão há quase 30 anos só ganho mais 100 euros do que os que estão a começar agora e não somos reconhecidos por ninguém. Tantos sacrifícios, tantas angústias, tanto arrependimento,. Tanta lágrima por mim e pelos outros. Os meus filhos foram proibidos de fazer enfermagem, eu quero o melhor para eles.

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    1. Se eu há tão pouco tempo me sinto assim, não imagino quem há tanto tempo trabalha. Tive colegas da sua geração e sempre me senti solidária com isso porque trabalhar tantos anos sem qualquer reconhecimento é, no mínimo, injusto. Por muito alento que ganhemos de um sorriso ou agradecimento de um doente, não mantém a moral em cima durante 30 anos... Força. Um beijinho.

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  13. Enfermeiras/os tenham em conta, que abraçaram a mais digna profissão, não a mais remunerada aqui na terra; mas sem querer entrar na área alheia recordo a Grécia antiga quando já Sócrates dizia diante da morte; o corpo podeis dele vos apropriar mas de mim já mais e JESUS completou, se entregando com toda humildade seu corpo ao madeiro mas seu Espírito vive para a eternidade.
    É neste sentido que se deve caminhar; sempre lembrando que tudo da terra é passageiro quem sobrevive a morte é exatamente o Espírito(Alma) é lá que receberemos os premios prometidos aos que assistissem os enfermos; as leis de DEUS são universais e eternas.

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  14. É urgente que se pense nisto e se faça algo por eles.

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  15. È urgente que se pense bem nisto e se faça algo por eles .

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  16. Como me custa ler estes testemunhos...sei bem o que isso é! Senti na pele tudo isto durante 9 anos... 9 anos muito gratificantes e ao mesmo tempo sacrificantes! Só sente e percebe quem passa fins de semana e noites a fio a trabalhar, perde festas de família, aniversários, choros e risos...enfim perde um pouco das nossas vidas para dar muito a outras vidas!!! Custou-me muito deixar a profissão que tanto me deu e tanto me tirou...Custou-me dizer "deixei a enfermagem" mas agora não me custa dizer "tenho tempo para mim e para os meus"! A todas as enfermeiras/os continuem a ser fortes e a darem força que um dia, assim espero, a nossa profissão será valorizada! Tenho orgulho em vós!!!

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    1. Nove anos... faço agora. E não me vejo mais nove anos por aqui.

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  17. Como militar sinto-me igual...todos nos odeiam, julgam uma profissão por causa de alguns degenerados que não sabem o que lá andam a fazer e as promoções estão estagnadas...mas horas e dias e meses sem ir a casa...não estar lá no aniversário dos filhos, da mulher, dos pais...não estar presente no nascimento dos filhos...tudo isso...e mais...mas continuamos a ser simplesmente vistos como aqueles que recebem para nada produzir...quando na verdade se vê, pelos paises com mais poder militar, a "produção" que têm...sou um "filho do mar", marinheiro de geração! E só o gosto pela profissão e o amor pela minha Pátria e a minha bandeira e o meu hino e a Constituição que jurei defender com a vida e que diariamente vejo defraudada, é que me fazem e aos meus camaradas, continuar...este é o nosso fado, seguir por gosto, deixarmos os sonhos de estabilidade e prosperidade por um sonho de se fazer o que se gosta! Boa sorte! A si, que escreveu estas palavras de "desabafo", e a todos os portugueses que lutam por um amanhã melhor...ou por um sonho que não vire pesadelo!

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    1. Eu desabafei a minha realidade, ciente de que há outras profissões de risco e desgaste rápido também sem qualquer consideração. E a vossa é uma delas.

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  18. Por aqui com dois filhos de 3 anos e 8 meses, pensei em desistir quando engravidei pela primeira vez. Não queria abdicar do tempo com o meu filho em prol de uma profissão que ainda que adore, é tratada de forma desumana. Não há motivação que aguente! Felizmente, consegui passar para um serviço que funciona de 2f a 6f e que me permite ter uma vida familiar "normal". Além disso, estou num serviço (Hospital de Dia) onde o enfermeiro é verdadeiramente valorizado e onde temos um trabalho muito autónomo! Passei de uma Medicina, onde o enfermeiro é quase um tarefeiro e apenas o médico interessa, para um serviço de sonho onde finalmente sinto-me útil e não uma escrava tarefeira. Foi uma lufada de ar fresco! Senão, não sei onde estaria hoje, mas na enfermagem não seria de certeza! Compreendo todas essas palavras que também já foram as minhas... Quanto ao salário, pois, não há muito mais a dizer...

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    1. É uma opção mas também difícil de alcançar. Ou consigo algo assim ou vou mesmo desistir a médio prazo.

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  19. Lutar Lutar Lutar será sempre a vossa missao por vezes desiludidos por a ignoranca ou falta de conhecimento do vosso papel essencial no salvar vidas e a maioria das vezes ouvem o agradecimento a classe medica e a vosso agradecimento e nas maiorias das vezes e esquecido , apesar disso nunca baixem os braços baixar a guarda leva a muitas vidas nao continuem e isso voces nunca o fariam, Obrigado por existirem gritem toda a vossa revolta mas no fundo da vossa alma continuem a amar todos aqueles que passam por as vossas vidas profissionais.Abraço do tamanho da vossa generiosidade.

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  20. Não podia tê-lo dito melhor... Obrigada por verbalizares aquilo que todos os dias sinto, mas nem sempre consigo transmitir. Obrigada por conseguires pôr em palavras este desencanto pelo rumo que a profissão está a tomar, mas nunca pelo cuidar do outro... Mas cada vez mais, cuidar do outro, implica cuidar menos de mim e daqueles que me estão próximos... E isso, sim, faz-me pensar se continua a valer a pena...

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    1. Obrigada eu por terem feito o meu desabafo chegar tão longe'

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  21. Realmente não e fácil ....
    Não há um botão mágico para desligar!
    Que nos faça não pensar na pessoa que tem a nossa idade...ou da nossa mãe e está em fase terminal!
    Hoje é um dia desses...
    Realmente custa...
    Mas...e se fosse eu?!
    Também gostaria que houvesse aquela Enfermeira que importou-se comigo com a minha família e que de alguma forma tentou aliviar um pouco esse Sofrimento que deve ser indescritível. ...
    Sou Enfermeira há 12 anos, realmente custa, mas se voltasse atrás voltaria a fazer a mesma escolha!




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  22. Parabéns e obrigada pela partilha. A sua humanidade faz falta à enfermagem. Há outras hipóteses, outras realidades, outros locais onde se reiventar, onde se dedicar, onde cuidar. Tenho cerca de 9 anos de profissão também e 2 filhos. Quando nasceu o meu primeiro filho percebi que sofria muito com a compatibilização com a vida profissional hospitalar. Deixei arrastar até um ponto em que não consegui continuar e despedi-me. Fiz trabalhos mais precários, descobri a área da formação, que adorei, mas acabei por entrar para a função pública através de concurso pela necessidade de estabilidade (e também saudades da enfermagem). Actualmente trabalho em cuidados de saúde primários e sinto que, estou a cuidar de pessoas na verdadeira essência da palavra. E além disso, estou com os meus filhos e família numa base diária. Procure, estude alternativas, ou tente mudar o seu coração para conseguir continuar no sítio onde está. Há muitos colegas a conseguirem mobilidades (sei que depende das instituições). É das crises que nascem as verdadeiras oportunidades. Quando aceitamos que temos que mudar e nos preparamos para isso, as coisas acontecem. Temos de ir em direcção ao que sabemos merecer. Toda a sorte.

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    1. Já mudei alguma coisa. Trabalhava a 40 km de casa e no início do ano deixei um contrato sem termo por substituições numa instituição mais perto de casa. Só o facto de em vinte minutos estar em casa melhorou muito a qualidade de vida. O primeiro passo está dado e sim, estou completamente disponível à mudança. Quando nasce um filho a nossa forma de ver as coisas muda muito e se a minha família já era importante, agora é o grande centro de atenções. Aguardo o que o futuro me reserva e acredito sempre num amanhã melhor :) Obrigada eu pelas suas palavras. Um beijinho tudo de bom.

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  23. Descreveu com riqueza de detalhes e sabedoria! 🥀

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  24. Obrigada Sara! Como me identifico consigo e já estou nisto há 25 anos! Só Deus sabe e eu o que passei para ser mãe de 3 filhos e ser enfermeira! Tantas vezes queria deixar tudo e ficar em casa e ser mãe a tempo inteiro! Nunca consegui porque nunca foi possível económicamente. Agora trabalho a meio tempo e sinto-me muito melhor!

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    1. Se é difícil com um imagino com três :) foi uma post que escrevi em jeito de desabafo e chegou a tanta gente. Sentia-me mal por, com tão pouco tempo de profissão me sentir assim. Mas tenho percebido que é um sentimento generalizado. Eu gosto do que faço mas não foi esta a enfermagem que me ensinaram ou aquela que eu quis aprender. Tudo de bom. Espero com o tempo conseguir uma melhor condição para poder dedicar ainda mais tempo ao meu filho.

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  25. Colega revejo-me completamente nas suas palavras. Força. E acima de tudo coragem. Ainda tenho esperança que a situação mude.

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  26. De Sara para Sara:
    desisti da enfermagem no último ano do curso. mas já tinha dezasseis anos de experiência a cuidar de uma pessoa acamada, com sonda nasogástrica, traqueostomia... e digo-lhe que foram poucos os enfermeiros que trataram melhor da minha avó do que eu, a minha mãe e a minha irmã, em casa.
    quanto aos enfermeiros do serviço em que a minha avó morreu... infelizmente a minha mãe teve de ser internada nesse mesmo serviço anos depois. desde troca de medicação a ignorarem doentes que tinham arrancado o cateter e o sangue a correr... imagino pelo que a minha avó terá passado quando lá esteve, que já não falava nem conseguia pedir ajuda!
    há pessoas que sabem do que falam quando criticam os enfermeiros. acredite que apanhei verdadeiras bestas durante a licenciatura e durante a doença da minha avó. ainda que só em estágio, mas sei minimamente do que fala.
    porém, a Sara parece-me personificar o ideal de enfermeiro. aquele que suporta, que cuida, alguém que tem em conta realmente a pessoa que ali está. que não está ali apenas para "cumprir serviço". infelizmente, enfermeiros como a Sara são raros. tem a minha gratidão por isso.
    tome a decisão que tomar, espero que continue a profissional de qualidade que mostrou ser. porque vai ser uma grande perda para a enfermagem.
    beijo

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    1. Entendo o que diz e, como em qualquer profissão, enfermagem não está dotada apenas de bons e grandes profissionais. Mas cada um responderá por si, perante os outros e perante a sua própria consciência. Eu respondo pelo que faço e sinto na medida em que me dedico. Não sei ser de outra forma e talvez também sofra mais por isso. Não sou mais nem menos do que ninguém, mas sou assim.
      Obrigada pelas suas palavras. Talvez vá ser uma perda para a enfermagem mas a enfermagem também tem sido, de certa forma, uma desilusão para mim.
      Um beijinho. E bem haja. Também não são todas as famílias que acolhem um familiar tão dependente, tendo em conta 'os sacrifícios' e a coragem que isso implica. Felicidades :)

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  27. Obrigado pelas palavras, são reflexo de muitos enfermeiros. Trabalho há 22 anos e nunca me arrependi de ter escolhido esta profissão, uns dias melhores e outros menos bons, mas o que ganho no dia a dia com os que cuido dá-me alento e vontade de fazer melhor sempre. Estamos no nascer, estamos no morrer e neste intervalo estamos em todo o lugar, sempre disponíveis para cuidar do outro.

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    1. O meu único desalento é que estou em todo o lugar mas mais na vida dos outros do que dos meus. E isso para mim não serve. Beijinhos

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  28. Olá, Sara. O teu texto fez-me chorar. Sou estudante de enfermagem e não sabes as vezes em que já me apeteceu desistir. O meu maior sonho é ser mãe e, nesta profissão com quem tenho muito contacto (através de familiares e amigos próximos), não vejo que tal possa ser cumprido com o desejo que eu quero. Custa muito estar neste ramo (no qual nem ainda estou verdadeiramente) e já ter tão poucas previsões felizes. Custa-me imenso pensar que vou ter que largar a minha vida pessoal para a dedicar aos outros. Sei que foi isto que eu escolhi, mas às vezes chego a pensar que, na altura em que fiz esta opção, não estava assim tão consciente disso. A perspetiva de sair do país dói por deixar os mais próximos, mas também quero proporcionar à minha família uma vida confortável. Não sei como aliar a vontade de ser alguém bom e de ajudar os outros com esta vigorosa vontade ser mãe, esposa e filha e isto, de verdade, desespera-me. Obrigada pelas tuas palavras sinceras. Foram lindas. Votos de muito sucesso e de muita felicidade (seja sendo enfermeira, ou não).

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  29. Mesmo com tudo isso , e ao fim de 30 anos ainda acho que vale a pena

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